29 de agosto de 2008

A noite o que é? Perguntas imensas.

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"Dizem-se mais coisas. Como é que pôde haver tanto silêncio, antes? A meio da noite não faças muitas perguntas, o mundo muda de lugar com muita facilidade. Um dia estaremos num país; passaremos a fronteira ao entardecer, à procura das estradas. Uma voz. Postais ilustrados. Segredos. Respostas à procura de perguntas. Viver de passagem, a meio da noite, só a meio da noite, o fim do Verão leva tudo, há-de trazer tudo no mesmo instante."
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Francisco José Viegas.

22 de agosto de 2008

Mar grego

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"Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de tique tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavrasou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia, que nem dás por mim."
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Eugénio de Andrade.

13 de agosto de 2008

Recanto

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"Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és."
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Manuel Alegre.
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3 de agosto de 2008

Um dia branco

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"Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.
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Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.
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Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.
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Um dia em que se possa não saber."
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Sophia de Mello Breyner Andresen
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