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"Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de tique tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavrasou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia, que nem dás por mim."
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"A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da provocação.
É assim que te faço arder triunfalmente onde e quando quero.
Basta-me fechar os olhos)
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Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
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Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos."
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"A tarde fria arrasta-nos para dentro da cama.
Aos poucos deixamo-nos ficar..., por ali.
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Fixo a fraca coluna de sol mergulhar pelo vidro da janela...
e sustentar-se friamente no soalho silencioso.
As tuas costas flutuam amparadas no colchão.
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Lentamente deixas cair o braço para fora da cama.
Sorrio não só por te sentir adormecida
mas também por a tua pulsação ser como uma balada,
- o seu refrão será sempre um refresco -
e as suas melodias ainda que electrónicas
estarão sempre à nossa espera.
nos head-phones abandonados
sobre a mesa de cabeceira."
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António Gedeão.
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Sophia de Mello Breyner, 1975.
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Sophia de Mello Breyner